Quem é esse "Grande Irmão"?

O que realmente é e está virando o fenômeno Big Brother e suas consequências


por Derek Corrêa

Fonte: APFrase do romance 1984, de George Orwell: “O Grande Irmão está a observar-te”


Há dez anos na televisão, nove só no Brasil. O Big Brother (Grande Irmão, do original), criação do executivo John De Mol baseado na figura totalitária do célebre romance de George Orwell, 1984; reality show que tem por definição tirar a privacidade dos concorrentes está cada dia mais próximo de uma realidade. Uma realidade prevista no próprio romance de Orwell.

O livro, escrito em 1948, retrata um estado totalitário e onipresente na vida de uma sociedade. George Orwell o escreveu em seus últimos anos de vida com medo do que a revolução socialista pudesse acarretar. Tinha como sugestão de título “O último homem da Europa” antes de virar 1984 – o inverso dos últimos dois dígitos do ano em que foi escrito. No fim, sua previsão não foi completamente realizada, contudo, atualmente seu livro não deixa de ser um alerta.

Hoje em dia conhece-se Big Brother como um programa de entretenimento em que milhares de cidadãos mandam por edição seus filmes mais inusitados para participarem da casa vigiada, não só por Pedro Bial, mas por todos os telespectadores que, aliás, podem desfrutar de uma vigilância de 24 horas por dia se adquirirem o pay-per-view do mesmo.

"Porque o tempo todo temos a sensação de que essas coisas acontecem 'conosco'"



Cultura da perda da privacidade

Todavia, cada vez mais se está, não só no Brasil, se criando uma cultura de perda de privacidade, onde o indivíduo sequer pode sair de casa sem que outros o possam achá-lo. Caso é a recente invenção da empresa Google: o Google Street View que, a princípio, tem a funcionalidade de poder ver as ruas de qualquer lugar desejado, porém, já vem sendo acusado de quebra de privacidade e sendo argumento até para processos judiciais.

Outros sites como: Myspace, Facebook e Orkut (O último sendo mais popular no Brasil e Índia), têm como características principais a criação de uma identidade virtual da pessoa que se cadastra e não são raros causas de ciúmes entre cônjuges e inícios de relações virtuais – que acabam por comprometer cidadãos com o desvirtuamento da própria realidade, não conseguindo, assim, se relacionar fora daquele ambiente. Sem mencionar diversos outros modos virtuais de comunicação.

A questão é: Por que gostamos tanto de nos desinibir, de perder a privacidade? O próprio George Orwell afirmou uma vez em entrevista a seguinte citação: "Por que essas trivialidades monstruosas são tão absorventes? Apenas porque toda a atmosfera é profundamente familiar, porque o tempo todo temos a sensação de que essas coisas acontecem 'conosco'". Contudo, essa fixação de observar e ser observado pode levar a um fim extremamente paranoico.

"Aldous Huxley, achava que a tecnologia e a química seriam a forma de manipulação do Estado sobre os indivíduos, fazendo até mesmo que gostassem de ser alienados. E o que falar das drogas e da mídia nessas horas?"



Privacidade: Ficção x Realidade

O Departamento de Defesa dos E.U.A esboçou no final do ano passado um programa intitulado Conhecimento Total de Informações, com o objetivo de permitir ao governo rastrear os movimentos dos 290 milhões de cidadãos norte-americanos, com o objetivo de prevenir ataques terroristas. Seria, então, um início de uma criação de um Big Brother?

No romance, George Orwell descrevia que no futuro todos pertenceriam a uma ideologia totalitária, quase que irracionalmente – exceto por Winston Smith, protagonista, que morre devido sua discordância da sociedade – das previsões que o autor se relacionava, muitas já foram desbancadas, mas na questão da privacidade poderíamos até dizer que já fomos além das ideias dele.

Fonte: adufe.net em 15/04/09

Charge comparando o internauta moderno com o “olho que tudo vê” do Big Brother

Outro autor, que assim como George Orwell previa um futuro distópico – ou seja, um futuro imperfeito –, Aldous Huxley, achava que a tecnologia e a química seriam a forma de manipulação do Estado sobre os indivíduos, fazendo até mesmo que gostassem de ser alienados. E o que falar das drogas e da mídia nessas horas?

Outro fato interessante que se constata é que numa entrevista com dez pessoas aleatórias referindo-se sobre conhecimento do romance, do autor do romance e da origem do programa Big Brother, somente um afirmou conhecimento. Parece que o que importa mesmo é o entretenimento nessas horas.

A cada dia que se passa há uma diminuição do ato de se envolver entre as pessoas ou até mesmo uma evolução, em certas características, no ser social. Como pode-se observar ao ver que o reality show Big Brother, que está em sua nona edição, continua a despertar os mesmos interesses do público e que há uma crescente criação de novelas onde o público pode, como disse George Orwell “...Ter a sensação de que essas coisas acontecem ‘conosco’”.

Raro é, nos dias modernos, não ser achado facilmente. Isso é uma das coisas que a tecnologia trouxe a nosso favor. Mas até quando perder essa privacidade é favorável? O maior dano dessa nova forma de privacidade – se assim a pudermos conceber – é que os papeis se inverterão e, até certo momento, as coisas ficaram previsíveis. Saber que uma candidata do Big Brother será a próxima capa de uma revista masculina não é nem mais novidade, a tal ponto de, ao iniciar o reality show, já fazem-se apostas para ver quem vai estrelar a primeira capa. Também como Fuxicar a vida alheia e saber seus ínfimos detalhes através de sites na internet.

Tudo isso acaba por fazer o indivíduo parar de pensar na sua própria vida e se projetar na vida dos outros. O que nos restará, se assim se progredir tal evolução, será conceber que George Orwell estava, sim, certo e que no futuro – se é que já não estamos nesse futuro – todos serão de todos, e todos serão do Estado. ▪

1 comentários:

  1. Daniel Vidal disse...

    Eu quero ser um Big Brother! rsrsrs

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