O meu blog diário

Como surgiu a blogosfera e quais são as consequências dos diários virtuais para o futuro do jornalismo

Por Carolina Bellardi

Ao digitar qualquer palavra em um dos buscadores mais utilizados do mundo, variadas páginas irão abrir-se os prováveis significados para a dúvida em questão, desde sites famosos de notícias até blogs pessoais. Com a abundante disposição de informação, o desafio atual do usuário da Internet é saber filtrá-la e descobrir se pode ou não confiar naquilo que lhe é exposto.

O termo web log foi inventado pelo americano Jorn Berger para designar um espaço individual dentro da grande rede, onde uma pessoa podia vincular outras páginas que achasse interessante. Mais tarde o termo e a finalidade mudaram. O nome foi substituído para We blog, e o conteúdo das páginas virou algo como um diário íntimo pessoal. A partir daí o termo contraiu-se e fixou-se o nome blog.

Com o passar do tempo, os diários virtuais foram-se abrindo em outras vertentes. Alguns permaneceram diários íntimos, outros viraram blogs de opiniões, discussões dos assuntos que o internauta se interessava, e outros, ainda, se aventuraram no mundo jornalístico. Tudo muito rápido como se é de esperar do mundo virtual.

Devido à maneira de formação de um blog, obter informação através dele atrai aqueles que têm pressa em se informar. Sua disposição básica geralmente é um modelo de leitura vertical, dividido em colunas, com o título bem destacado, descrição do blog, perfil do blogueiro – o autor das matérias – e arquivos, bem delineados entre os mais antigos e os mais recentes. As constantes atualizações também são um chamariz para os leitores.

Diferente do jornal impresso, onde é preciso esperar até o dia seguinte para ler as notícias da véspera, o blog pode estar 24 horas no ar, na hora do acontecimento, ser atualizado em tempo real. O blogueiro recebe a informação e escreve um post, uma espécie de artigo, que é publicado em sua página.

Tadeu na premiere do filme do Iron Maiden

Com a postagem dessa informação começa o problema: como saber que aquilo que está publicado no blog é 100% seguro? Tadeu Salgado, 24 anos, produtor cultural, tem um blog sobre Heavy Metal, o agenda do headbanger. Usuário da blogosfera, espaço constituído pelos blogs enquanto redes sociais, desde 2007, sua página destina-se à divulgação de datas e informações sobre shows no Brasil de bandas de rock. Indagado sobre a credibilidade dos blogs jornalísticos, afirma que depende: “Tem muitos blogs que levam muito a sério, como o Solada, que pertence ao jornalista Thiago Sarkis, um dos mais importantes daqui do Brasil. Agora, tem muitos blogs que só divulgam boatos para tentarem ‘aparecer’. No meu blog, só coloco shows confirmados oficialmente. Por exemplo, faz de conta que eu sei que o Sepultura vai tocar no Rio. Mesmo eu sabendo data, local, não posso divulgar enquanto não aparecer no site oficial do Sepultura.”

O blog pode trazer uma série de vantagens, e isso motiva o internauta a atualizar sempre sua página com conteúdos seguros, algumas vezes não tão confiáveis assim, só para ter algum post no ar. Um site bem visitado conquista leitores fiéis que podem ser uma fonte de informações e também de dinheiro e dar algumas regalias a seu dono, como explica Tadeu: “Percebi que o blog pode ser um instrumento para ganhar dinheiro, através do Google Adsense e de parcerias com gravadoras e produtoras.

Recentemente, fechei uma parceria muito boa com a Movie Mobz, distribuidora do filme ‘Iron Maiden: Flight 666’. Estamos com uma promoção que vai sortear um kit (dois pares de ingresso + um pôster oficial da turnê no Iron Maiden). O bom também de levar um blog a sério é que você acaba tendo seu trabalho reconhecido e ganha credenciais para assistir a shows. Minha primeira credencial foi para o show do Ozzy Osbourne, em abril do ano passado. Depois deste show, eu me animei bastante para continuar fazendo um site sério, sempre atualizado. Os leitores influenciam e colaboram para o crescimento do blog, pois escrevo pensando neles. Pena que são poucos os leitores que clicam nos anúncios googles (cada clique, eu ganho uns centavos)”.

Ao navegar no ciberespaço vai-se onde se deseja, lê-se aquilo que interessa e na ordem que interessa. A pessoa se torna o editor do próprio jornal. E o blog está a cada dia tomando o lugar do impresso. Segundo um artigo de Nicholas D. Kristof, do New York Times, publicado pela Folha de São Paulo do dia 29/03/2009, “existem provas bastante convincentes de que, em geral, não desejamos realmente informações confiáveis, e sim as que confirmem nossas idéias preconcebidas.” Pode ser o fim dos jornais impressos.

No mesmo dia em que foi publicado o artigo de Kristof na Folha, o Ombudsman do jornal, Carlos Eduardo Lins da Silva, conta que “sexta-feira, dia 27 de março, circulou a última edição em papel do centenário ‘Christian Science Monitor’. E na quinta-feira, o ‘New York Times’ anunciara um corte de 5% no salário de quase todos os funcionários, enquanto o ‘Washinton Post iniciava processos de demissões voluntárias”. Ele afirma também que a migração do jornalismo impresso para a tela é irreversível, mesmo que versões impressas se mantenham. “O rigor e o cuidado imprescindíveis no jornal impresso devem ser obrigatórios no eletrônico. As sociedades democráticas podem até sobreviver sem jornalismo de papel mas, sem jornalismo independente serão castelos de areia”.

Lolla, usuária da blogosfera há oito anos

A VIDINHA DE LOLLA MOON
Usuária da blogosfera há quase uma década, e dona do simpático HelloLolla. a dona de casa que atende pelo heterônimo LollaMoon, conta em uma breve entrevista realizada por e-mail suas opiniões, sua relação com os leitores do blog e o que acha do mundo virtual atual.

Há quanto tempo você tem o blog e como surgiu o interesse em fazê-lo?

Meu primeiro blog foi criado em 2001, no meio daquela explosão inicial de blogs brasileiros. Fiz porque acabara de descobrir a internet um ano antes e estava ansiosa por experimentar todas as possibilidades da grande rede. O primeiríssimo foi um blog teste no Blogspot (tão relevante que sequer me lembro o nome...), e que foi deletado logo em seguida quando descobri um portal de blogs nacional chamado Desembucha. Foi lá que criei o Cantinho Terrorista, um blog seguindo o estilo “diarinho de menina” acompanhado de observações um tanto quanto ácidas a respeito do mundo à minha volta. Esse blog acabou sendo catapultado para as primeiras posições do ranking dos “mais visitados” do portal pouco antes de ele encerrar atividades, já que não tinham como absorver a enorme demanda decorrente da popularização dos blogs no Brasil. Migrei então novamente para o Blogspot, onde o Cantinho Terrorista 2.0 me rendeu uma legião de desafetos e admiradores. Sem mencionar uma ou outra breve incursão pelo Wordpress e Livejournal, nunca mais saí do Blogspot (que me acompanha há anos e por vários blogs diferentes).

Para o seu blog você tira informações, ideias e etc de outros blogs?

No começo, quando meu blog era apenas um diário e mais opiniões randômicas, não. Entretanto o perfil de quem lê e escreve blogs hoje em dia é radicalmente diferente do perfil dos leitores/blogueiros de 2001. Apesar de achar que, hoje em dia, o formato “diarinho” ainda se sustenta (desde que com bons textos), os blogs atuais se parecem muito com sites de jornalismo, zines – publicações alternativas e independentes –, fornecendo recomendações de produtos e analisando notícias e acontecimentos. Meu perfil também mudou. Meus blogs antigos tinham essa temática "meu querido diário” por eu ser adolescente e estar numa fase de autodescobertas, questionando o mundo e a mim mesma. Hoje não tenho tempo nem vontade de redigir longos textos introspectivos. Então o blog é, basicamente, um espaço para expor minha vidinha diária em forma de fotos, opiniões sobre o país para onde me mudei e fazer um clipping das coisas que encontro pela web e acho interessantes, em especial textos, fotografias e arte. Não gosto de reproduzir noticiário e nem leio blogs de notícias.

“Prefiro ler relatos impessoais e me sentir livre para chegar à conclusão que quiser sem me sentir alienada por discordar do texto”

Você acessa algum blog jornalístico? Se sim, você confia 100% mas informações dele ou busca outras fontes?

Como demonstra o final da minha última resposta, eu já ia falar sobre o assunto. A princípio não vejo diferença nenhuma entre um portal especializado e um blog de notícias, seja o autor jornalista ou estudante, dona de casa, advogado, desocupado etc. Por várias vezes, blogs foram mais rápidos e acurados ao noticiar certos eventos do que qualquer portal poderia, trazendo atualizações mais rápidas e o ponto de vista sincero de quem estava, de fato, vivendo aquele acontecimento. Entretanto percebo uma tendência na mídia tida como “alternativa” de impor sua visão ao relatar um fato, e como pelo menos na internet brasileira a vasta maioria dos blogs de opinião se declara de esquerda, o leitor já sabe qual linha ideológica irá permear aquela notícia. Note que o problema seria o mesmo se a maioria dos blogs fosse de direita ou se a opinião viesse da mídia formal; o problema não é a ideologia ou a fonte, e sim manipular os fatos com opiniões pessoais de qualquer natureza. Prefiro ler relatos impessoais e me sentir livre para chegar à conclusão que quiser sem me sentir alienada por discordar do texto e da claque de comentaristas que quase sempre populam esses blogs. Mas acredito que haja espaço para que essas duas mídias igualmente importantes coexistam e se completem.

Como é a sua relação com os leitores do seu blog? Eles de certa maneira participam dele?

Minha relação com meus leitores é cordial, ainda que talvez distante.Tenho poucos comentários porque escrevo em inglês, o que de certa forma desencoraja quem não sabe expressar-se no idioma (mas que, por outro lado, me traz leitores e comentaristas do mundo todo). Durante esses oitos anos, já tive blogs onde interagia bem mais com os leitores e, se por um lado, fiz boas amizades entre eles, por outro tive problemas com pessoas que discordavam da minha opinião. Devemos lembrar que essa sensação de “proximidade mais anonimidade” típica da internet encoraja certos tipos de comportamento nem sempre desejáveis. Hoje eu não tenho tempo para comentar ativamente em outros blogs, não recebo “sugestões de pauta” de leitores ou terceiros, mas todos os comentários que recebo são bem-vindos e, se trouxerem uma pergunta, respondidos sempre que possível.


Você acredita na profissão “blogueiro”?

Por enquanto, não. Há uma diferença entre usar o blog para gerar algum tipo de renda e considerá-lo uma carreira. A maioria das pautas sugeridas paga muito pouco e, como se trata de um fenômeno recente no Brasil, não há como saber se o interesse em “contratar blogueiros” vai continuar a crescer, ou se o próprio blogueiro vai se manter interessante aos olhos dos leitores por muito tempo, atraindo anunciantes. Então, eu pessoalmente não apostaria nisso como uma “carreira”; no entanto, exatamente pelo fato de ser um fenômeno recente, não podemos predizer se veio para ficar. Há vários blogueiros que fazem do blog o ganha pão, como o Interney no Brasil e a Heather Armstrong, do Dooce. Pode ser que a adolescente que faz blogs de maquiagem hoje recebendo amostras grátis para resenhar esteja, amanhã, escrevendo para a Vogue ou editando um portal de beleza. O futuro só o Google saberá dizer.

1 comentários:

  1. Daniel Vidal disse...

    Não fale mal de blogs em seu próprio blog. Hunf! rsrsrs

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